Monday, April 05, 2010

Escrevendo uma crônica.

“Por vezes, esquizofrênico, gritei com meu entorno. Mas eu sempre pedi desculpas. Eu. Sempre. Pedi. Desculpas.”

A frase (insana ou poética, dependendo do ponto de vista) é a que ouço durante minha caminhada até o Palacete Wolf. Isso logo depois do casal elegante e charmoso de palhaços chamar os passantes para sua apresentação, às 19h. (O que dá duas dicas ao leitor: o acontecido ocorreu durante o Festival de Curitiba – com variadas atrações por toda a cidade; e eu não estava atrasado para a oficina de crônicas, também às 19h)

Do nada, surge um homem em trapos, sobe no peitoril de uma loja qualquer e grita as palavras acima. Parece bêbado e acho que já tinha aprontado antes: um policial estava em seu encalço. Digo “um homem em trapos” porque não sei se é um mendigo, um louco qualquer ou um ator, em atuação visceral e fazendo “propaganda viral” de sua peça. O policial pode estar cuidando da aparência imaculada da cidade, atendendo a uma chamada do manicômio ou atuando também, para criar mais buzz para o espetáculo. Não sei porque não acompanho o desenrolar da cena.

Mas anoto a frase imediatamente.

Durante a aula, recebemos a tarefa de consultar o Oráculo de Mercúrio. Resumindo: fazer uma pergunta internamente e ouvir a resposta no ar, em alguma conversa aleatória. Eu faço minha pergunta, ela meio que é respondida, mas resolvo usar a frase inicial. Porque a acho mais significativa, posso?

Então me lembro do professor da oficina de crítica literária falando de Aristóteles e de como ele conceituou arte de acordo com a verossimilhança. Às vezes, há coisas reais que soam absurdas e coisas fictícias que são mais verossímeis. Essa seria uma preocupação constante mesmo no realismo fantástico literário. Também disse que a obra do grego foi muito utilizada como manual para criação poética e que suas palavras foram muito deturpadas. 

Por que falo disso? Porque a citação introdutória me soa mágica e absurda. Porque ela me parece totalmente inverossímil. Porque se eu falasse dela pra alguém que passou 30 segundos antes ou depois pelo mesmo local, a pessoa não me creria. E porque estou dizendo um enorme “dane-se” a quem acha que ela não caberia numa crônica.

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