Saturday, May 01, 2010

Pra você viver mais

Alô. Alô, Fernanda? Arthur! Faz tanto tempo que já tinha até me esquecido da sua voz. A sua continua a mesma. A sua também, acho. É aquela coisa: a gente esquece, mas basta ouvir um pouquinho pra lembrar de tudo. Eu conseguiria listar algumas coisas que são desse jeito. O quê? Alguns amores, gosto de Arthur, tá me ouvindo? Tô. Você poderia falar um pouquinho mais alto, tá meio baixo aqui. POSSO. CONSEGUE ME OUVIR AGORA? Aff. Acho que era algum problema com o sinal: você quase me deixou surda. Haha, desculpa. O que você estava dizendo antes? Ahn.

Não lembro. Devia ser mentira. Devia. Bem, eu liguei mais pra dizer que fui ver uma peça hoje. Baseada na obra de Paulo Leminski. Nossa, deve ter sido boa. E foi. Lembra de quando eu descobri que ia me mudar pra cá e que pensei que, ao menos, conheceria ele? E de quando descobri que ele já tinha morrido? Sim. Seria tão legal se ele ainda estivesse vivo. 

Enfim, a peça foi no Teatro José Maria Santos. Sabe aquele do qual falei numa carta, em que vi a peça sobre Capitu? Aquele do dia em que Sim, eu lembro. Você lembra. Eu e minha mania de descrever tintim por tintim algumas sensações da nova cidade. As peças que vi, em especial, apesar de poucas. Então, essa peça foi TÃO boa que alguns minutos depois dela ter começado eu já tava chorando. O ator lá, falando das palavras, a atriz traduzindo pro francês. Ele falava de janelas abertas, de estrelas, de outras coisas tão bonitas e, de repente, olha pra mim, pra mim mesmo e perguntou: “Você vem olhar o céu?”. Eu fiz que sim com a cabeça. 

Eu anotei algumas coisas no meu caderninho. Sobre a bota rosa da atriz. Dela falando “São ótimos esses lencinhos”. Ou do outro ator, mais famoso – fez até novela – dizendo “Queria ter alguém para esperar. Mas não espero ninguém.”

Eu chorei mais algumas vezes. Uma delas quando já tinha saído da peça e que até me ajudou a aliviar um pouco de minha sinusite. Urgh. É nojento mesmo, hehehe. Pensei em tanta coisa antes de chegar em casa. Apesar do sono, queria ligar pra você. Lembrei daquela "Canção pra você viver mais".

Arthur? Tá aí, ainda?

Alô? Tô, tô aqui, sim. Hoje eu vi uma coisa na internet. Tem um site que se chama Learn Something Every Day. Hmmm, nunca ouvi falar. No dia 25 de Abril eles postaram que homens que partem o cabelo pra direita tendem a viver mais que os homens que partem o cabelo pra esquerda. Hahaha, sério? Eu posso não saber fazer uma canção, mas posso te dar essa dica, não? Valeu. O que eles falaram no dia do meu aniversário? Que anatidaefobia é o medo de que um pato esteja te observando ou perseguindo. Interessante.

E por aí vai. Estranho pensar que uma peça boa influencia seu sistema imunológico e faz você viver mais (o que torna o nome da peça, Vida!,  ainda mais significativo). E que talvez isso tenha o mesmo peso que repartir o cabelo pra direita.

Monday, April 05, 2010

Escrevendo uma crônica.

“Por vezes, esquizofrênico, gritei com meu entorno. Mas eu sempre pedi desculpas. Eu. Sempre. Pedi. Desculpas.”

A frase (insana ou poética, dependendo do ponto de vista) é a que ouço durante minha caminhada até o Palacete Wolf. Isso logo depois do casal elegante e charmoso de palhaços chamar os passantes para sua apresentação, às 19h. (O que dá duas dicas ao leitor: o acontecido ocorreu durante o Festival de Curitiba – com variadas atrações por toda a cidade; e eu não estava atrasado para a oficina de crônicas, também às 19h)

Do nada, surge um homem em trapos, sobe no peitoril de uma loja qualquer e grita as palavras acima. Parece bêbado e acho que já tinha aprontado antes: um policial estava em seu encalço. Digo “um homem em trapos” porque não sei se é um mendigo, um louco qualquer ou um ator, em atuação visceral e fazendo “propaganda viral” de sua peça. O policial pode estar cuidando da aparência imaculada da cidade, atendendo a uma chamada do manicômio ou atuando também, para criar mais buzz para o espetáculo. Não sei porque não acompanho o desenrolar da cena.

Mas anoto a frase imediatamente.

Durante a aula, recebemos a tarefa de consultar o Oráculo de Mercúrio. Resumindo: fazer uma pergunta internamente e ouvir a resposta no ar, em alguma conversa aleatória. Eu faço minha pergunta, ela meio que é respondida, mas resolvo usar a frase inicial. Porque a acho mais significativa, posso?

Então me lembro do professor da oficina de crítica literária falando de Aristóteles e de como ele conceituou arte de acordo com a verossimilhança. Às vezes, há coisas reais que soam absurdas e coisas fictícias que são mais verossímeis. Essa seria uma preocupação constante mesmo no realismo fantástico literário. Também disse que a obra do grego foi muito utilizada como manual para criação poética e que suas palavras foram muito deturpadas. 

Por que falo disso? Porque a citação introdutória me soa mágica e absurda. Porque ela me parece totalmente inverossímil. Porque se eu falasse dela pra alguém que passou 30 segundos antes ou depois pelo mesmo local, a pessoa não me creria. E porque estou dizendo um enorme “dane-se” a quem acha que ela não caberia numa crônica.

Wednesday, March 24, 2010

A vida como ela é:

Tenho mania de não pontuar as frases adequadamente. Não que eu ache que deva usar "?" no lugar de ":", ou algo do gênero, mas quando eu tinha um fotolog costumava pôr reticências no final de todas as frases.


As frases acima meio que eram pra introduzir o post, relacionando com o título, fazer uma coisa interessante. delicinha de ler. Mas mudei várias vezes a pontuação nele. E tô com uma incapacidade absurda de escrever qualquer coisa que preste. (Não que, a capacidade existindo, eu consiga escrever algo que sobreviva duas semanas ao meu senso crítico, mas isso é outra história)
Hoje vi a peça A vida como ela é no TEUNI, montagem de Edson Bueno. Que já tinha me surpreendido em 2006, com Capitu: memória editada, no dia que ficaria famoso por... esquece, isso é uma outra história. Ele também dirigiu Kafka - escrever é um sono mais profundo que a morte, peça com título compridérrimo que ganhou vários prêmios este ano. Achei meio brega o título, depois melodrámatico demais - acho tão mais legal chamar só de Kafka -, mas deve ser uma frase original do kara mesmo, melhor não implicar demais. Enfim, esta também é muito boa, mereceu os prêmios que ganhou e foi bem melhor aproveitada depois de eu ter lido Kafka de Crumb. (E lembrado do quanto me identifico com ele)
estranha.


É o que complementaria o título. Foi assim ver a peça sem ter lido praticamente nada do Nelson Rodrigues, com exceção de O beijo no asfalto, peça que teve referência tão pequena que nem sei se percebi. Além de não ter lido nada, não sei muito do senso comum sobre as obras dele (sabe aquilo que faz a gente continuar uma conversa fingindo que sabe sobre o que se está falando?). Gostei e fiquei interessado em correr atrás das peças do cara (a peça, como todas que vi dessa companhia, é uma colagem de textos do cara, dados históricos e intervenções originais). Cena mais legal? Com os dois atores que mais curti: Chiris Gomes cantando uma das diversas músicas de época que permeiam as cenas, enquanto Tiago Luz diz o quanto odeia a música: quando ele saca uma arma, ela pára no mesmo instante.


Ela me lembra alguém que conheço e de que gosto muito. Talvez a minha professora de Geografia, em Porto Velho. Ele também me lembra alguém que eu conheço, mas meu poder de abstração está fraco pra tal cogitação.


A vida é estranha, mesmo. Comecei a gostar do livro do Vonnegut, Breakfast of Champions, depois de ter criticado muito, tê-lo acusado de "querer ser o dono da verdade" e de ter recebido a réplica do Leo de que, falando daquele jeito, eu estava sendo o mesmo (coisa que Eric nunca falaria, mas escreveria em seu livro ou em algum conto como característica de um personagem mal-disfarçadamente baseado em mim). O livro ficou melhor depois, também (o começo era péssimo), mas o tapa da realidade, mesmo que exagerado, ajudou a tentar apreciá-lo melhor.

Friday, February 26, 2010

Reativando o blog.

Esse blog, como sempre, terá cunho mais pessoal. Não vou fazer como das outras vezes, quando, ao reativá-lo, deletei todos os posts antigos. Até porque não vale a pena: aparentemente são apenas três postagens. Gosto da foto com o Arnaldo Antunes.

Hoje fui ao primeiro encontro da oficina literária de crônicas da FCC. Legal pra pensar um pouco. Legal pra conhecer outras pessoas (apesar de ter conversado pouco). Legal pra tentar combater um pouco o meu pânico de andar nas ruas, especialmente de noite.

Tá, eu vou tentar fazer como a professora disse e anotar as idéias que surgem, na hora em que surgem. Ela falou que alguém falou algo sobre uma idéia perdida estar irremediavelmente perdida. Eu tinha esse hábito de tomar notas, mas perdi depois que parei de escrever tanto e depois que adotei a postura de que, se uma idéia é boa mesmo, ela volta.

PelamordeDeus, eu tava querendo realmente escrever algo decente aqui. Talvez falar da "catinga" de cigarro, das piras jornalísticas, dos tons pastéis e cinzentos das roupas, da iluminação interna dos ônibus (semelhante a de salas de interrogatório) e outras coisas que eu esqueci (mas que, se forem sacadas boas, lembrarei).

Fica pruma próxima. E que o parágrafo anterior sirva como anotação.